Centro do Caboclo Boiadeiro

Mãe de Santo:  Maria de Jesus Santos Souto (Mãe Marieta)

História:

Eu sou filha natural de Lençóis, mas me criei em Montes Claros, Minas Gerais. Depois fui morar em Barreiras, em seguida fui para Irecê, onde me casei, para no fim vir parar em Morro do Chapéu.

O meu pai trabalhava na roça plantando, ele era de um lugar cheio de serras, grutas, tocas, localizado em Martim Afonso. Ele era um bom rezador, tanto que se uma mulher estivesse para ter bebê e fosse morrer no parto, ele mandava comprar logo o pano para o caixão. Também era um violeiro de primeira, tocava viola em festa de casamento e nos sambas dos carurus que minha mãe fazia. Já a minha mãe era de Bela Vista, localizada em Utinga. Ela dava Caruru e rezava as pessoas de dor de cabeça, dor de barriga, cólica, espinhela caída, mas não era parteira. A minha avó era uma cabocla que foi pega no mato, acho que a nação dela era Payayá.

Eu não tive nem pai, nem mãe de santo, porque nasci feita, mas nessas festas de caruru da minha mãe eu só ajudava lavar os pratos e dar comida aos meninos. Quando eu tinha sete anos, ela começou a me levar à casa da mãe de santo, mas lá eu não podia bater um tambor que eu caía. Se eu ouvisse tocar já me manifestava. Meu pai não gostava daquilo, porque eu era muito nova e aquilo me pegava de um jeito que eu não governava. Mas ele sempre cuidava de mim. Teve uma vez eu fiquei 24 horas como se estivesse morta. Quando acordei já estava com as mãos cheias de cera de velas, e minha mãe chorando.

Outra vez, indo para Barreiras, escorreguei e caí no rio. Avistei um peixe que brilhava como ouro e peguei no rabo dele. Ao invés de ir para o fundo do rio, eu subi e avistei um senhor que se chamava Zé Rodrigues. Assim que cheguei à superfície da água, ele me pegou pela manga do vestido e me tirou. Minha mãe já estava pegada na mão dos outros, preocupada comigo. Naquele instante, o peixe virou uma pedra e se afundou.

Lá em Barreiras, eu rezava em uma casa de santo e dava remédio – tanto os que se fazia do mato, quanto os de farmácia, eu preparava tudo. Aqui em Morro, eu casei com um senhor que não acreditava muito nessas coisas. O casamento foi no dia 27 de outubro. Quando foi dia 28, às 11 horas, eu coloquei o pé direito na nossa nova casa, entrei e criei duas famílias lá. Oito crianças dos outros e 15 minhas – só que quatro não estão mais vivos.

Agora eu sou a dona da casa, e ninguém pode passar por cima de mim que eu grito mais alto. Sou filha de Iansã com Xangô, e aqui ninguém me pisa, nem homem nem mulher. Tem que me respeitar. Não saio muito na rua porque minha alegria é meu santo e minhas festas. Aqui eu faço consultas, mas elas são caras, vem quem quer. Cobro 150 reais, sendo que uma consulta em Cachoeira ou São Félix é 300, 400 reais. Eu fui expulsa de lá em 1972, e não me deram nem uma colherzinha de pemba azul – e olhe que eu comi pemba três vezes. Mas aqui ninguém me conhece de verdade.

Eu trabalho com búzios, água, luz, uma pedra dentro da água e outra no cristal, para ver quem está lá dentro. Tenho três nações: umbanda, Ketu e Angola. No dia 6 de agosto eu rezo o terço de Bom Jesus da Lapa, por uma promessa que fiz, e em 27 de setembro faço o caruru de Cosme e Damião. No dia 4 de dezembro tem também a festa de Santa Bárbara, e aí eu faço um presépio, recebo os rezeiros e gosto de um samba de roda com viola e couro.

Data e nomes das Festas: 

06 de agosto – Terço Bom Jesus da Lapa

27 de setembro – Caruru Cosme e Damião

04 de dezembro – Santa Bárbara

Dezembro a 07 de Janeiro – Montagem da Presépio