Tenda de Umbanda Caboclo Boiadeiro e Pai Joaquim de Angola

Pai de Santo:  Antônio Alves de Carvalho

História:

Eu fui para São Paulo com 15 para 16 anos. Joguei uma mala de pau nas costas e falei para minha mãe e meu avô: “estou indo embora para o mundo”. Eles me deram 100 mil réis, juntei com mais 100 que eu tinha, e fui. Foram seis dias de viagem. Cheguei à estação do Brás e conheci uma família que me levaria para uma cidade próxima ao Mato Grosso. Fui trabalhar em uma fazenda, onde fiquei por dois meses. Então, segui para o Paraná e em Londrina conheci um japonês que me chamou para ajudar a catar café por 30 dias.

Depois fui pedir trabalho para um espanhol numa fazenda próxima, e ele me ofereceu um lugar para comer e dormir. Foi onde conheci seu José, que me pediu para ajudá-lo a cuidar de um terreiro, todos os dias, das 6h às 23h. Todos me tratavam muito bem, com atenção e cuidado. Nessa época eu já sentia uns arrepios fortes e tinha dia em que eu ficava agoniado demais. Mas ficava nessa de não querer entrar na macumba.

Voltei para São Paulo e fui visitar as firmas para pedir emprego, mas não conseguia nada, porque eles não podiam me dar trabalho sem registro. Aí conheci um rapaz que me chamou para trabalhar com construção e fiquei nisso até meus 18 anos. Nesse tempo entrei na lei de crente. Aprendi tudo, me preparei bem, me formei em teologia evangélica. Mas em pouco tempo as entidades me aleijaram, de um jeito que fiquei três meses sem fazer nada. Um dia gritaram nos meus ouvidos para eu ir a um curador. Respondi que não iria, que nem sabia onde encontrar um curador. Quando eu abri o olho, já estava no meio da rua, em pé. Como eu abri o portão e saí de casa não sei.

Nisso passou uma mulher chamada Cida, e ela me levou até o curador. Chegando lá, outra mulher, alagoana, chamada Lourdes, me disse tudo o que eu tinha, parecia que me conhecia há anos. Ela falou que no dia seguinte eles iam bater o couro e eu ia sambar. Eu pensei: “mas como um aleijado vai sambar?”. Em seguida, quando toquei nas minhas pernas as senti, andei sem ninguém me pegar e fui sozinho para casa.

No outro dia fui para o samba. Me lembro de ver Lourdes com o incenso na mão e depois disso não me lembro de mais nada. Quando abri os olhos, estava amanhecendo, sendo que eu nem tinha visto anoitecer. Foi aí que ela me contou que se a casa não fosse forte eu tinha derrubado tudo. Foram dez homens me pegando. Fiquei oito meses nesse terreiro, e depois de pouco tempo eu já estava trabalhando com o Preto Velho Joaquim. Mas um dia do nada eu briguei com Lourdes, e ela me proibiu de voltar ao terreiro.

Eu estava com o caboclo Ubirajara, o caçador – eu trabalho com ele também. Ele lutou com Ogan, que era sabido e velho. Um aleijado foi quem levou a pancada, bateu no chão e veio se arrastando para perto de mim. Então, Boiadeiro me pegou, e Cosme e Damião, que tinha pegado ele, me mandou levantar. Foi uma confusão.

Depois disso, conheci uma dona de Pernambuco, com nome de Alzir, e ela mulher trabalhava com Zé Pelintra e os outros. Fui à casa dela e toquei uma festa, foi até com o caboclo Ubirajara. Ele mandou eu pegar um caminho para organizar meus trabalhos e fui parar em São Miguel Paulista. Lá encontrei uma mulher, nos olhamos, e ela me saudou falando: “Boiadeiro chegou!”. Ela me abraçou aí e fez um trabalho usando uns 19 bichos de pena, fora toda a roupa. Era festa de Zé Pelintra. Quando voltei para casa, chovia de gente para atender, de dia e de noite. Os meus guias são Boiadeiro e Esquerdeiro.

Este terreiro aqui em Morro é novo. Hoje eu tenho uns seis filhos de santo comigo, mas já tive muitos em São Paulo – depois que voltei recebi carta para cuidar de um pessoal lá, até do prefeito eu cuidei. Quando abri esta casa, teve um Ogan que nos apareceu pedindo para tocar tambor lá em casa e desde então fazemos isso, com a autorização de Boiadeiro – que já está comigo há mais de 60 anos.

 

 

 

Data e nomes das Festas: 

20 de janeiro – Caboclo das Matas

27 de setembro – Cosme e Damião

Ogum

Boiadeiro

Iansã

Iemanjá