Terreiro de Cosme e Damião

Mãe de Santo: Zilda Maria de Jesus (Ziu)

História:

Eu já nasci com essa força, mas até hoje não quero acreditar que tenho, sabe? Sofri muito com isso, desde criança. Com oito anos eu vi o índio (meu guia de frente) pela primeira vez. Quase que eu morro! Ele sempre vinha e me dava uma surra, porque é muito brabo. Apanhei demais, me dava um calundu, e eu chorava muito. Sou a única da família que ficou com esse peso. Minha avó por parte de mãe era indígena Tapuia. Os meus bisavós também eram indígenas.

Minha mãe, Judite, era Nagô e toda vida foi do Jarê, mas eu negava isso. Não gostava de ir, nem de comer as coisas que davam nas festas. Tinha nojo… Não bebia nem água! Mas não tinha outro jeito. Ela me levava para a casa dos curadores, e eles diziam que não podiam fazer nada. Meu avô, Justino, não acreditava, mas chegou a pedir para os curadores tirarem as forças também. Só que não dava para tirar, porque fazia parte de mim desde o nascimento.

Fui à casa de Pedro de Laura, em Utinga, e o caboclo Sete Serra falou que não podia ajudar. Fui à casa do finado France, que era o maior curador da cidade, também não consegui ajuda. Depois tentei a casa de Domingo com Narizinha, e nada. Por fim, fui parar em Seabra, na casa do finado José do Velano, mas também não pude ficar lá. Apesar disso, ele me entregou sucupira e adivinhou quem era meu guia de frente: o índio Tupinambá.

O desejo de montar o terreiro já vinha desde quando eu morava no Remanso, porque lá eu tinha devoção dentro da minha casa. Aos sábados rezávamos para os homens, e às quartas para as almas e as mulheres. Nesse tempo, tinha confusão com o meu ex-marido. Casei com Manezim quando eu tinha 19 anos e ele 52. Ele era muito ciumento, e os caboclos se envolveram e me tiraram dele. Aí conheci Zé, casei com ele e vim parar aqui na roça, em Andaraí, onde faço meus carurus. Comprei um terreno para fazer o salão de Cosme bem perto da beira do rio.

Apesar das dificuldades, fiz tudo sozinha, sem pai de santo, nem mão de santo, porque não gosto que ninguém pegue na minha cabeça. Minha mãe de santo é Nossa Senhora da Guia – eu tenho ela no meu altar -, e meu pai de santo é Deus, mesmo.

Mas eu também tenho meus guias, que me ajudam a construir tudo. É através deles que ainda consigo ver o que acontece no Remanso – tanto que um irmão, Zé Bracim, ficou doente, e eu já sabia. Dei um jeito de cuidar dele a tempo para ficar bom. Sei que às vezes isso não me faz bem, porque me dói no peito ver meu povo lá sofrendo com as coisas que acontecem. Sempre que dá eu ajudo ou pelo menos aviso sobre algo que está para acontecer.

Vou cuidando das coisas de todo mundo que me procura. Trato doido, perturbado, tiro cachaça, tiro trem ruim, porque é o que eu tenho que fazer mesmo. Ajudar tudo quanto é tipo de pessoa. E vou levando a vida até onde Deus quiser.

Data e nomes das Festas:

27 de setembro Caruru de Cosme Damião

Primeiro sábado de dezembro Festa de Santa Bárbara com Matança de carneiro

Quarta feira de cinzas  Fechada do Terreiro

Sábado de Aleluia  Abertura do Terreiro