Pai de Santo: Gilberto José da Silva
História:
Meu pai me fez e me deixou no mundo, com minha mãe Emília. Quem me criou foram ela, minha avó e minha bisavó maternas. Mas sei que minha avó por parte de pai era da região de Cachoeira e São Félix (Bahia) e fazia parte da nação nagô.
Eu nasci e cresci em Tanquinho, Lençóis. Muito novo comecei a ficar doido, fui amarrado com corda e tudo. Até fogo queimou em mim, sem precisão. Quando eu tinha sete anos de idade, parei de enxergar e saí correndo, entrei no meio da mata bruta. Tiveram que me levar para a casa do finado mestre Pedro de Laura, para me cuidar. Quando eu cheguei, meus guias de luz já me pegavam. Depois as coisas foram se organizando, fui começando a bater couro… Fiquei lá morando com ele uns quatro anos. Graças a Deus, ele foi minha força e me trouxe a essa nação.
Sou do Terreiro de Ogum, e as festas lá em casa começam no dia 20 de janeiro, com Reis de São Sebastião. Depois, dia 4 de setembro tem festa de Santa Bárbara, e dia 27 de setembro, as balas para Cosme e Damião. Logo após os festejos deles, vem o trabalho e a limpeza de gente. Estou me organizando para fazer a abertura e o fechamento da casa. Não vai demorar, este ano que vem deve ficar pronto. Eu atendo o pessoal com jogo de búzios também, e tenho muitos filhos de santo que são de fora. Em Andaraí, tenho um filho que já me chamou para assentar os exus, os escravos. O terreiro dele está quase pronto.
Aqui em casa é o Preto Velho quem governa e faz os trabalhos daqueles que chegam perturbados. Depois dele vêm os Caboclos de Ogum e Sultão das Matas, pedindo licença no jogo de búzios – lá, vejo as vidas do povo. Ogum também desce e explica tudo o que está acontecendo. Além dos búzios e do copo de água, chamamos os guias através do sino.
As roupas que tenho aqui são de Preto Velho, de Ogum e dos Caboclos, na ordem que começa a abertura da casa. Tem também as ferramenta deles, que uso na fachada da casa para cruzar os filhos de santo. Um ponto importante é o uso do cordão, que abaixa os espíritos ruins nas pessoas. Eu benzo a pessoa com ele, e tudo vai aquietando. O colar pertence à Xangô… E assim vou trabalhando dos dois lados, seja na mesa branca ou na preta.
Cantigas:
“Olhei pro céu vi uma estrela correr,
Olhei pra baixo vi a pedra rolar,
Seu preto velho operou sua espada
E a sereia começou cantarolar”
“É meia noite quando o galo cantou
É de manhã que o dia amanhecendo
Seu preto velho pegou sua espada
E debatendo com os inimigo
É meia noite quando o galo cantou
É de manhã que o dia amanhecendo
Seu preto velho pegou sua espada
E debatendo com os inimigos”
Data e nomes das Festas:
20 de janeiro – Reis de São Sebastião
04 de dezembro – Festa Santa Bárbara
27 de setembro – Balas para Cosme Damião – Obrigação da sua esposa Marineide Ferreira dos Santos