Terreiro de Ogum de Umbanda

Mãe de Santo: Domingas Gonçalves Nogueira

História:

Meu pai se chamava Vicente Gonçalves de Araújo, era sertanejo e garimpeiro na Chapada Velha. Ele nasceu e trabalhou na fazenda de Horácio de Matos, no período de Getúlio Vargas. Minha mãe se chamava Francisca Maria Nogueira, ela era lavradora em Bela Vista de Utinga, perto do sertão de Mucugê. Meus avós por parte de pai se chamava Gido Fernando de Souza e Maria Gonçalves de Araújo. Da parte da minha mãe, meu avô era Oleriano Bispo Nogueira e minha avó, Maria Eugenia de Jesus. Sei que meus avós eram indígenas do mato que foram pegos e viveram na cidade.

Aos 17 anos, eu morava em Nova Redenção e me casei com o filho de Zé da Cruz. Então, viemos morar em Tanquinho, Lençóis, em 1969. Comecei a rezar com 20 anos, porque naquela época eu ficava louca e corria para o mato. Lembro que meus pais iam me resgatar junto com a minha irmã. Diante dos vários acontecimentos, eles me levaram para Itaetê, um lugar chamado Mamoneira. Fui recebida pela curandeira Jeni, que era filha de Adelaide. Fui me tratando e percebi que o problema era espiritual. Segundo ela, esse povo me acompanhava era para dizer que eu tinha que trabalhar na religião ou me achariam morta dentro dos matos.

Por receio, passei a trabalhar com 20 anos. Foi aí que comecei minha vida no Jarê, tendo Ogum como meu principal guia. Mantive contato com a Jeni curandeira, que hoje mora em João Amaro. Era ela quem me dava banho e me mandava fazer alguns trabalhos que me deixavam de resguardo. Graças a Deus estou boa até hoje. Trabalhei em Itaberaba, depois voltei para casa dos meus pais, em Nova Redenção, e por fim vim para Tanquinho. Nesse tempo todo já tocava Jarê e fui fazendo os filhos de santo. Tenho muitos filhos, entre eles Zélia Preta, comadre Flora – a parteira da cidade -, comadre Sesi e sua filha Maria…

Nesse tempo de Jarê, conheci Pedro de Laura – ele chegou a me mandar algumas filhas de santo para cuidar aqui, uma se chamava Ninha e a outra se chamava Lourde. Também cuidei dos filhos de seu Antônio – um deles era compadre Germano, que devido ao adoecimento me encaminhou algumas pessoas, e eu cuidei de todos. Eu tinha como grande amigo o velho Dunga, que sempre vinha me explicar sobre como fazer as coisas no Jarê e através dele cuidei de Vavá, que tem apelido de Vavá Curado em Redenção. Pelas bandas de lá, lembro que tinha alguns curandeiros, dentre eles conheci Zé Sebastiana e seu irmão Joãozinho, hoje eles não são mais vivos.

A minha casa foi registrada como Candomblé de Ogum e Umbanda, mas a casa pegou fogo e todos os nossos documentos foram queimados. Quando o Pasquelim termina, eu abro o terreiro e, depois que passam os oito dias de Carnaval, a gente fecha. Mas durante todo esse período, continuo jogando os búzios – antes eu também jogava cartas, mas parei. Jogo os búzios desde quando abri a minha casa e, através dele, falo sobre os banhos e trabalhos a serem feitos. Eu passo desde banhos com garrafada para pessoas que possuem bronquite ou dor no peito. É desse jeito que vou tocando as atividades aqui.

Em 26 e 27 de setembro, a gente também comemora a festa de São Cosme e São Damião – dois dias de Jarê. Sobre os couros, são três, e um auxilia o outro na hora da festa. O primeiro chama os guias, e os outros acompanham. Durante os festejos nós usamos alfazema para afastar as energias ruins e jogamos para afastar algumas coisas. Tudo aqui era mais bonito, mas acabei perdendo meu companheiro, em um acidente na estrada, e as coisas foram se dificultando…

Além de Ogum, um outro guia que é importante na minha casa é Gentil das Matas. Tem também o Índio Tupinambá… Essas roupas em meu terreiro são de todos eles. Uso também a coroa de Ogum que eu recebi em Itaberaba, na casa de Eva, mas ainda falta comprar a de Iemanjá, representada na cor verde. Também tenho São Jorge representado na cor amarela, e os búzios são de Ogum. Portanto, os guias São Jorge, Ogum, Iemanjá e Gentil são os que regem minha casa. Uso as guias no pescoço que os representam, e tenho assentados no altar Cosme Damião, Nossa Senhora Aparecida, Pai João, Pai Joaquim e Santa Bárbara.

Data e nomes das Festas: 

Oito dias depois do Carnaval – Fechamento da casa

Pasquelim (oito dias depois da Páscoa) – Abertura da casa

26 e 27 de outubro – Festa de Cosme e Damião com Jarê