Terreiro Nossa Senhora Aparecida

Mãe de Santo:  Laura Alves de Souza Santos

História:

Nasci na Lagoa de Gaudêncio, na região de Irecê. O meus pais e avós todos nasceram nessa mesma região, que agora faz parte do município de Lapão. Eles viviam na roça, fazendo plantação de arroz, feijão, milho, mamona. Meu pai Aurélio foi curador, pai de santo e chefe de Reis por muitos anos. Eu sempre acompanhava meu pai nos terreiros. Ele fazia os trabalhos, batia atabaque, e eu ficava assistindo ou ajudando ele. Comecei a atender desde criança. O meu pai de santo, Darlindo, me preparou.

Quando eu era bem nova, comecei a sentir as coisas. Uma vez eu estava com meu avô dentro de um ônibus, cheio de gente, indo para Irecê. De repente avistei lá no fundo um homem sentado, e uma voz me falou que ele era bandido e seria preso pela polícia na entrada da cidade. Fiquei com aquilo na cabeça e comentei com meu avô, mas ele não deu tanta importância. Quando chegamos à entrada de Irecê, os policiais pegaram o homem.

Antes de minha mãe falecer, também escutei uma voz me informando que ela morreria na quinta-feira da Paixão, e eu fiquei muito triste. Eu não gosto muito de saber dessas coisas, porque elas de fato acontecem. Já até entrei para a igreja, fiquei lá por um ano. Um pastor me procurou, fez uma oração, mas disse que isso que eu tinha não se tirava, porque era de nascença. Se eu quisesse poderia sair da igreja, porque não resolveria nada ali.

Aos sete anos, eu sumi para dentro das capoeiras e passei 15 dias no mato. Sorte que me acharam. Eu estava fraca e magra por ter ficado esses dias todos sem comer e beber, aí um rapaz que tinha perdido um animal dele foi o procurar e me achou debaixo de um pé de folha verde caída. Ele me pegou nos braços e me levou para a casa de minha mãe. Isso tudo acontecia sem eu ter consciência. O povo achava que eu tinha morrido. Chegando ao hospital, fiquei internada por alguns dias. Depois que saí, comecei a vida com a religião e de lá para cá nunca mais parei.

Uma vez estava indo sozinha para Goiânia – eu tinha uns 12 ou 13 anos, e naquela época criança podia viajar sozinha, sem impedimento como tem hoje. Tinha um pessoal conhecido meu que estavam por lá, mas, quando cheguei à rodoviária, era meia noite, e eu não sabia o endereço e nem tinha como pegar o táxi pela falta dessa informação. Resolvi esperar um pouco na rodoviária, mas o guarda me disse que era perigoso ficar ali e que me arranjaria um lugar barato para eu ficar.

Nesse momento, surgiu um rapaz me perguntando se eu era da Bahia. Eu disse que era de Irecê, e ele adivinhou que eu era da Lagoa dos Negros. Perguntou se eu toparia ir com ele para casa da sua tia, eu aceitei, mesmo coo guarda questionando. Ele pegou minhas malas, guardou, e fomos juntos. Quando chegamos lá, ele chamou a tia, falou que eu era conterrânea, e ela me aceitou. Tomei banho, jantei e dormi, no outro dia cedo eu levantei, fiz café na casa da mulher, botei a mesa. Então, ela pediu para que eu trabalhasse lá, porque, segundo ela, eu seria a pessoa que Deus mandou para trabalhar com eles. Fiquei alguns anos lá e depois vim embora.

Foi nesse caminho que me disseram que eu teria que ir para Morro do Chapéu. Afirmaram também que eu encontraria um velho com quem eu casaria. Em seguida tive um sonho, em que me falavam para beber um litro de cachaça, assar um frango e comer. Chegando a Morro, fui ao mercado e comprei um litro de cachaça e bebi, depois cozinhei o frango e comi. Quando foi de noite, eu vi um homem, endoidei e comprei a passagem para vir embora. Quando cheguei de volta a Lagoa, fiquei lá dois dias, encontrei o velho e casamos. Ficamos juntos por 18 anos, quando ele faleceu, e casei novamente com quem estou até hoje.

Outra vez inventei de ir para Goiás e lembro que fiquei lá por uns cinco anos, na época de 1985. Aí teve uma pessoa que perguntou se eu era da Bahia e pediu para eu ler a mão – porque para ele o povo da Bahia era muito sabido. Eu li e falei algumas coisas para ela. Pedi para tomar cuidado, porque ela teria um acidente de carro. Depois de oito dias, ela me apareceu toda engessada, falando que tinha tido um acidente, que não tinha dado tanta importância ao que eu falei.

O meu terreiro é tanto de umbanda, quanto de candomblé. Jogo os búzios, e o que Deus mostrar eu digo. Teve um dia que chegaram três mulheres com a foto de um rapaz abraçado com outra senhora e perguntaram como ele estava. Ao pegar o nome e puxar o anjo de guarda dele, era como se o rapaz nem existisse mais. Eu vi um caixão cheio de flores e falei para elas que o rapaz não era mais vivo. Elas fizeram isso meio que pra testar se eu estava mentindo, porque outra pessoa tinha passado elas para trás. Mas eu não quis render muito a conversa, porque na verdade elas queriam saber quem havia matado esse rapaz, e aí isso já não era comigo, era com a polícia.

Algumas das nossas músicas:

“A senhora das graças chegou, chegou pra nos visitar

A luz que vos alumeia, chegou no fundo do mar

As águas do mar embalança, sereia recebeu o sinal

Os anjos cantou lá na glória, tocando as cornetas nos dando sinal”

 

“Eu sou um nagô das costas, eu vim foi trabalhar

Eu sou da corrente negra, eu vim foi te salvar

Eu sou da corrente negra, eu vim foi te salvar”

 

“Porque não peço licença no meu terreiro, quando estou para chegar

Sou um caboclo vencedor de batalhas, sou cairiri cairiri eis do mar

Sou um caboclo vencedor de batalhas sou cairiri cairiri eis do mar”

 

Data e nomes das Festas: 

 

25, 26 e 27 de setembro – Cosme e Damião

Iansã / Santa Bárbara

Ogum

Nagô Vei